Paul McCartney se abre sobre a crise existencial que enfrentou após o fim dos Beatles: "De muitas maneiras, eu estava morto".

As memórias de Paul McCartney chegaram às livrarias na terça-feira. Nelas, o cantor descreve sua vida e carreira após o fim dos Beatles. Ele também relembra a crise existencial que vivenciou após a separação do grupo de Liverpool. Na época, ele se descreveu como "um jovem de 27 anos se afogando em um mar de conflitos com a lei e consigo mesmo, prestes a se tornar um ex-Beatle".

O livro autobiográfico de Paul McCartney estreou em 4 de novembro. "Wings: The Story of a Band on the Run" explora as origens da banda homônima, Wings, que McCartney fundou em 1971 , pouco depois de deixar os Beatles , encerrando oficialmente a icônica carreira de uma década do grupo.

"A história extraordinária de uma banda cujo trabalho, apesar das origens humildes, acabou se tornando a trilha sonora de uma geração. Apresentando imagens de arquivo inéditas e entrevistas com o próprio McCartney, sua família e os membros da banda, este livro conta a história da odisseia de um homem em busca de sua identidade após o fim dos Beatles", diz a descrição da editora.

No livro, o artista de 83 anos relembra a crise existencial que viveu quando os "Liverpool Four" fizeram história. Esse momento coincidiu com um boato que circulava na imprensa sobre sua morte. Essas especulações começaram no final da década de 1960. Segundo teorias da conspiração da época, o músico teria morrido em um acidente de carro anos antes, e a banda teria escondido a tragédia substituindo o vocalista por um sósia.

"De muitas maneiras, eu estava essencialmente morto naquela época. Eu era um jovem de 27 anos prestes a me tornar um ex-Beatle, afogado em um mar de conflitos legais e pessoais que estavam drenando minha energia. Eu precisava de uma mudança completa", confessou McCartney.

O vencedor de 19 Grammys enfatizou que, durante esse período sombrio , temia que seus melhores dias já tivessem passado.

"Será que algum dia conseguirei seguir em frente depois desta década incrível? Será que conseguirei superar as crises que pareciam explodir todos os dias?", questionava o músico na época.

O fim dos Beatles ocorreu devido a crescentes desavenças e diferenças artísticas. Embora John Lennon tenha sido o primeiro a deixar a banda , foi somente com a declaração oficial de McCartney, publicada em 10 de abril de 1970, em entrevista ao The Daily Mirror, que a dissolução do grupo foi confirmada publicamente.

O músico então decidiu tomar uma decisão que mudaria sua vida, abandonando a agitação de Londres pela idílica paisagem rural escocesa. Com seus filhos e sua esposa Linda, com quem mais tarde fundou a banda Wings, McCartney se estabeleceu em uma fazenda de ovelhas na Península de Kintyre, em Argyll.

"Olhando para trás, estávamos completamente despreparados para essa aventura maluca. (...) Meu pai, Jim, que ainda mora em Liverpool, me ensinou muitas coisas, principalmente jardinagem e o amor pela música, mas assentar um piso de cimento não era uma delas. Mesmo assim, recusei-me a desanimar. (...) Nenhuma tarefa parecia pequena ou grande demais – fosse cortar uma árvore de Natal na floresta, fazer uma mesa ou subir uma escada para pintar um telhado. Tosquiar ovelhas era um grande desafio . Tínhamos um cara chamado Duncan que me ensinou a usar tesouras antigas e a posicionar uma ovelha corretamente. Embora eu conseguisse tosquiar 10 ovelhas para cada 100 que ele conseguia, ambos ficávamos igualmente exaustos no final do dia", relembra McCartney.

O artista observou que uma vida simples no interior, longe dos holofotes e da imprensa intrometida, lhe proporcionava o consolo necessário, tornando-se ao mesmo tempo o ímpeto para criar novas músicas.

"Senti uma imensa satisfação em aprender a fazer tudo isso, em fazer um bom trabalho, em ser independente. Pensando bem, o isolamento era exatamente o que precisávamos. Apesar das condições difíceis, o ambiente escocês me deu tempo para criar. Em nosso entorno imediato, estava ficando claro que algo empolgante estava acontecendo. Pela primeira vez em anos, me senti livre; de ​​repente, senti que estava realmente no controle da minha própria vida", enfatizou a estrela.

O Wings esteve ativo de 1971 a 1981. O grupo lançou sete álbuns de estúdio, incluindo o aclamado pela crítica "Band on the Run".

A popularidade da banda também foi impulsionada pelo single "Live and Let Die", da trilha sonora do filme de James Bond "Live and Let Die".

McCartney não está de forma alguma diminuindo o ritmo - ele anunciou recentemente que está trabalhando em um novo álbum, que provavelmente será lançado no próximo ano.